The Get Down e o surgimento do Hip Hop

 


Por Bruna Vasques


Nova York,1977. A disco music em queda. Ramones tinha surgido há três anos. Mas no Brox DJ Kool Herc, Grandmaster Flash e Afrika Bambaataa estavam tocando, fazendo a galera dançar e dando início ao movimento Hip Hop. Este é o pano de fundo para a SENSACIONAL série da Netflix, The Get Down!

É difícil escrever sobre uma série tão boa que você se sente abandonada quando acaba. Então, dessa vez eu não vou escrever nem filosofar demais. Vou colocar várias referências, vídeos e listar alguns motivos para tentar convencer quem vier a ler este artigo a assistir o babado. Porque vale a pena demais!

Como não poderia deixar de ser, The Get Down é uma série musical. Aliás, uma das séries mais caras da plataforma por ter investido milhões em dólares em direitos autorais para retratar a cena musical de 1977. Esse é o primeiro motivo porque você tem que assistir. Esse é só um som que toca na série:


    Baz Luhrmann, diretor da série, fez uma pesquisa que levou uma década antes de tirar The Get Down do papel. Também conta com a produção executiva do rapper Nas que assina Angel Dust, faixa da trilha sonora. O resultado é que eles conseguiram retratar o ano de 1977 no Bronx em Nova York mesclando os personagens fictícios com figuras reais e fundamentais para o movimento como os mencionados DJs Grandmaster Flash, Kool Herc e Afrika Bambaataa além de acontecimentos reais como o blecaute que aconteceu na cidade em julho daquele ano: a cidade ficou no escuro por 25 horas em decorrência de uma tempestade de raios. Segue teaser  do seriado com a presença de The Grandmaster Flash:


    Entre os personagens fictícios estão quatro adolescentes do Bronx que estão adentrando a cena, sonhando em fazer música e passar a sua mensagem interpretados por Justice Smith, Jaden Smith, T.J. Brown e Skylan Brooks. Apesar de o personagem de Justice Smith ser o protagonista, os outros meninos não ficam atrás por serem personagens de enorme carisma e excelentes atores.
Justice interpreta Ezequiel Figuero e se torna MC Books porque ele é o poeta do grupo, o cara das rimas. Já T.J. Brown é o movimento, representando o break. Jaden Smith, filho de Will Smith, é Dizee, artista do grafite, que deixa a sua marca nos trens e muros da cidade sob o pseudônimo de Rumi. Um dos meus favoritos é Ra Ra, personagem de Skylan Brooks, o nerd do grupo, fã de Star Wars, todo ansioso, mas com pensamento estratégico para tirar o grupo das enrascadas em que se metem. Há também o DJ, Shaolin Fantastic, que largou o grafite para se aventurar na música, condutor do grupo, personagem ambivalente, que por não ter família nem moradia é envolto em dilemas e precisa fazer uma série de escolhas difíceis. 
Eu fico morrendo de vontade de colocar vídeos das apresentações deles, mas no caso de The Get Down, as apresentações deles são acontecimentos importantes que são praticamente plot twists. Então, não farei isso porque não quero cometer o crime de dar spoiler. Se você for procurar no Youtube por vídeos, você vai encontrar. Mas a responsabilidade será sua. Então, deixo aqui fotinha dos meninos fazendo cara de malvado.


    O elenco conta também com Giancarlo Esposito, o eterno traficante psicopata desalmado de Breaking Bad - Gus Fring - que interpreta o pastor Ramon, fanático religioso da igreja pentecostal que é pai de Mylene Cruz, interpretada por Herizen Guardiola. Mylene quer se tornar uma grande cantora disco mas tem que enfrentar o fundamentalismo religioso de seu pai. Esposito, como sempre, dá um show de interpretação e é mais um motivo para que você assista The Get Down



    Não pense que o Brox em 1977 é retratado de maneira ingênua ou romântica. A violência e o tráfico de drogas permeiam o contexto da periferia de Nova York onde a maioria da população é negra e latina. O seriado tem a destreza de mostrar a violência e o tráfico sem fazer disso a temática principal e, ao mesmo tempo, sem dar a entender que tais fatos sociais são episódicos. É uma realidade complexa e isso fica muito claro. Claro, é uma série e, por mais que tenham personagens  reais e retrate acontecimentos reais como o citado blecaute, é uma representação artística e, portanto, tem muita licença poética. Até porque uma das coisas mais marcantes são as poesias e rimas de MC Books entre outros. Coloco um dos poemas de Books porque quero muito te convencer a assistir:



    Ainda não te convenci? Espero que Emicida me ajude a fazer isso:



     A maneira como a cena musical da Nova York de 1997 é retratada é uma metáfora da complexidade daquele contexto. Lá no início, eu disse sobre a disco music e o início dos Ramones. É interessante ver como a cena musical é palco de conflitos. Essa galera que estava se movimentando nas festas de rua, fazendo rimas e mixando discos estavam se contrapondo ao mainstream que, na época, era a música dançante e as discotecas. Também fica claro nem todo mundo escutava rock ou punk.
    Ezekiel é um menino de visão que ganhou um estágio na cena política de Nova York. Mr. Gunns, político branco, quer fazer de Zeke um porta-voz, um representante do gueto. Tem uma cena em que Zeke está trabalhando com a filha de Gunns e coloca um disco da banda Blondie, que Zeke desconhece. E também ela fala de Sid Vicious (da banda punk britânica Sex Pistols) e dos já citados Ramones. Zeke desconhece completamente a cena ao passo que a garota branca desconhece e não entende a paixão de Zeke pelo Hip Hop. De novo, a série é inteligente demais por mostrar a complexidade do contexto.

    Não sei se convenci alguém de que a coisa é genial. Assista lá e comprove. São apenas 11 episódios que deixam saudade. Não desanime pelo fato de a série ter sido cancelada. Muita gente deve ter ficado ressentida com Baz Luhrmann por ele ter abandonado o barco. Ele até escreveu um pedido de desculpas (acho é pouco) explicando que ele não conseguiu fazer mais nada e que ele é um cineasta, o negócio dele é filme. Porra, Baz, faz um filme The Get Down, então! Mas, é isso... Vale a pena mesmo assim, juro! E outra, dá para assistir de novo, de novo e de novo! 

    Caso eu não tenha te convencido ainda, deixo alguns materiais aqui que me ajudaram a escrever este artigo:

    Artigo sobre a série de Eduardo Arau no Soulart: https://soulart.org/artes/thegetdown

    Entrevista com Afrika Bambaataa na Revista Raça: https://revistaraca.com.br/afrika-bambaataa-e-a-origem-do-hip-hop/

    Matéria sobre a série de Rafael Gonzaga para o Omelete: https://www.omelete.com.br/series-tv/criticas/the-get-down-1a-temporada-critica

    Essa matéria do Sala Secreta tem fotos incríveis da época e fala sobre como Kool Herc começou a tocar, no aniversário de sua irmã Cindy (acontecimento que também é retratado na série): https://salasecreta3s.com/primeira-festa-de-hip-hop-realizada-por-dj-kool-herc-completa-47-anos/.

    E, claro né gente? Não pode faltar TRAILER!






Bruna Vasques é pedagoga e cientista social. Agora, em isolamento, entre altos e baixos, anda estudando filosofia e procurando coisa boa para assistir como The Get Down. Sim, até aqui vou dizer: ASSISTA THE GET DOWN!





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