MOTIVOS PARA LER O SEGUNDO SEXO


Por: Bruna Vasquez*




     O Segundo Sexo é uma obra filosófica sobre a situação da mulher de autoria de Simone de Beauvoir que foi publicada, pela primeira vez, em 1949. Aqui apresento alguns motivos para que vocês leiam essa obra-prima.



1-Para questionar os papéis de gênero



     Para começar, é importante dizer que, se você for mulher, pode ser que fique muito indignada com a leitura. Porém, já não é novidade que a situação da mulher não é das mais favoráveis. Se você for homem, pode ser que se sinta um macho escroto, idiota, opressor. Essa leitura é incômoda qualquer que seja o seu gênero ou orientação sexual e isso é uma coisa boa! Porque, quando você se incomoda com uma leitura filosófica ou sociológica é porque está questionando a realidade e a si mesmo e isso é sempre bom.



2-Simone de Beauvoir era uma nerd, uma cdf



     Ela estudou muito, leu muito e refletiu muito para escrever o Segundo Sexo. Isso demonstra, inclusive, uma de suas teses que é a de que, em condições favoráveis, uma mulher pode ser extremamente brilhante, fantástica, fabulosa. Por incrível que pareça, ela não queria escrever sobre a mulher: é uma das primeiras colocações que ela faz no Livro I. Porém, a sua honestidade intelectual e sua perspectiva filosófica a fizeram trabalhar nessa obra-prima, um verdadeiro tratado sobre a situação da mulher.



3-Simone de Beauvoir era inteligente, sagaz demais

    

     Como era genial essa mulher, minha deusa. Algumas de suas análises são tão apuradas, algumas passagens são tão geniais. A escolha de palavras, as metáforas. A sua escrita é incrível. Por isso esse é um item a mais nessa humilde lista. É que, além, de ter estudado horrores, Beauvoir tinha o dom da escrita e da argumentação e a perspectiva que ela adota, sobre o a qual falarei um pouco mais no próximo item, a fez ir ao fundo da questão. Um grande bônus é que além de dialogar com correntes filosóficas, ela busca aprofundar seu argumento partindo também de obras literárias.



4-A perspectiva



     O existencialismo é a perspectiva filosófica de Simone de Beauvoir. Isso quer dizer que ela procurou analisar a situação concreta da mulher através não só da análise dessa situação na sua época, o pós-Segunda Guerra Mundial. Ela entendeu que, para entender a situação atual da mulher, ela teria de voltar um pouco atrás. Muitas pessoas conhecem a sua famosa citação: “Não se nasce mulher, torna-se mulher” com que ela inicia o volume II da obra. O que alguns talvez não saibam é que a pergunta que ela procura responder, a partir do Livro I, é porque a situação da mulher foi tornada assim e essa pergunta a levou a questionar a situação da mulher no decorrer do desenvolvimento histórico, e a dialogar com correntes teóricas como a psicanálise e o materialismo histórico.



5-Simone de Beauvoir era uma mulher à frente de seu tempo



     Ainda hoje não é fácil falar sobre alguns assuntos como o aborto, por exemplo. Imagine falar sobre o aborto, da maneira como Beauvoir fez, cerca de 70 anos atrás! Esse é apenas um exemplo: como já disse, a perspectiva da qual a filósofa parte, a fez discorrer sobre muitos assuntos, seu intento era falar da situação concreta da mulher, então ela fala sobre a infância, a mãe, a prostituta, a lésbica. É claro que podemos muito bem não concordar com tudo e é extremamente saudável que vejamos, humildemente, os limites das ideias que estamos absorvendo: a leitura não é uma atividade passiva, é dialógica na medida em que estamos em outro espaço e tempo. No entanto, Simone de Beauvoir merece todo o respeito e é acertadamente considerada, ainda hoje, um ícone para  as mulheres e o movimento feminista.

6-É pra não deixar cair a peteca



     A gente fica indignada lendo o Segundo Sexo? Ficamos, sim! Já falei que isso é uma coisa boa porque a reflexão é um importante combustível para a mudança. Além do que, se você fica indignada é porque já sentiu na pele as dificuldades de ser mulher. E sabe que não está sozinha.

     Se você é homem e está lendo essa lista: O Segundo Sexo é para você também. Não para que você se reconheça enquanto opressor e se conforme com isso. Ao contrário: o patriarcado também te faz mal, amigo. É claro que te favorece de muitas maneiras, mas te oprime de tantas outras. O Segundo Sexo serve para você se questionar acerca do seu papel em tudo isso e entender que a emancipação das mulheres, é na realidade, a emancipação da humanidade.

     Pra não deixar a peteca cair é porque, apesar de toda uma história de opressão o que Simone de Beauovir nos ensina é que se,  se a situação da mulher foi tornada desse modo isso quer dizer que pode ser tornada outra, totalmente diferente, uma situação de emancipação total. Pode ser que nem cheguemos a testemunhar tal mudança, mas isso não quer dizer que não possamos fazer nada. Podemos começar por observar a nós mesmos, as pessoas que nos cercam e as relações de um jeito diferente, mais crítico e mais humano.





     Último recado é que, caso você tenha vontade de se aprofundar na leitura eu posso te ajudar. É porque, às vezes, alguém pode considerar a linguagem difícil ou ter dificuldades em compreender os períodos históricos, fatos ou ideias retratados em O Segundo Sexo. É só entrar em contato!








Bruna Vasquez é Cientista Social e Pedagoga. Gosta de Drag Music a Heavy Metal, de documentário a série absurda. Anda lendo o que tem na estante de casa e sua mais nova encanação são os estudos de gênero e feministas.





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