Docuseries WERQ the WORLD (arte drag de novo!)



Por Bruna Vasques*


Eu gosto de escrever sobre o que eu gosto e eu gosto de arte drag. Já escrevi sobre essa forma de expressão artística de forma geral em outro artigo, mas agora vou falar um pouco sobre a série documental Werq the World. Vou contextualizar um pouquinho primeiro porque sou dessas.
Estou completando quase três meses de isolamento hoje, 14 de junho. 87 dias pra ser mais precisa. Moro sozinha e há dias que não são fáceis. Não sou de reclamar porque estou em uma situação confortável, mas eu às vezes fico mal. Porque gosto de gente e gosto muito de algumas pessoas específicas que não posso ver pessoalmente. Então, ontem me peguei pensando no que poderia levantar meu ânimo. Claro que pensei na arte drag.
A temporada 5 de RuPaul All Stars começou, mas é apenas um episódio por semana. Então, fui pesquisando para ver se encontrava algo a mais de arte drag para eu afundar no meu sofá e ficar a noite inteira vendo roupa babadeira, coreografia, maquiagem e performance. Até que dei de cara com essa série maravilhosa. Assistir todos os episódios um atrás do outro fez tudo ficar mais bonito para mim.
Werq the world acompanha os bastidores da turnê de mesmo nome que leva as queens de RuPaul’s Drag Race pela Europa na sua primeira temporada e Estados Unidos na segunda. Cada episódio é centrado em uma queen e mostra um lado delas que a gente não vê no reality. Além disso, somos presenteados com trechos de suas performances maravilhosas. Vou falar um pouco de cada queen e o que se pode esperar da série (vou dar só alguns spoilers pequeninos).

AQUARIA


Aquaria é um queen muito jovem, novaiorquina, com grande talento para dança. Ela é praticamente filha de Sharon Needles, outra queen que está na turnê e elas são realmente muito próximas, dividindo camarim e ajudando uma à outra na montação para o show. É uma queen muito preparada para a sua idade, carismática e com grande apelo para a moda. Tem uma personalidade mais discreta do que as outras, mas não deixa de ter um grande carisma.

VALENTINA


Valentina é uma queen temperamental de origem latina. Filha de imigrantes mexicanos ela traz essa raiz para seu drag que tem, segundo ela própria, inspiração nas novelas mexicanas e nos concursos de Miss Universo. Valentina é muito feminina e requintada, dona de um sorriso belíssimo. O que eu achei mais legal na sua aparição nessa série, é que Valentina expõe a sua luta contra a depressão e também o seu lado doce e excêntrico que a fez ser amada pela audiência na 10ª temporada.

KIM CHI


 Kim Chi é uma queen asiática, de origem sul-coreana que traz uma pegada anime para a turnê servindo nada menos que Sailor Moon. É conhecida pelas suas altas habilidades em termos de maquiagem e cuidados com a pele. Além disso, é conhecida pela sua língua ferina no reading que é quando as queens criticam umas as outras sobre roupas, estilo e personalidade mas sempre na brincadeira, sem ser depreciativo (só um pouco, vai). Kim Chi não perdoa ninguém, também fala muita baixaria e ri até em chorar em vários momentos e a gente ri junto com ela.

LATRICE ROYALE


Pode-se dizer que Latrice Royale é uma big black mama, a mãezona do grupo. Dona de uma grande personalidade, fica muito brava às vezes, odeia o atraso das garotas mais novas, mas sempre consola as meninas quando elas precisam de um colo e tem a melhor risada de todas! Latrice, em Werq the world, nos conta sobre a sua história de vida que não tem sido nada fácil. E também sofreu alguns reveses na turnê como quando sua bagagem foi extraviada com os seus looks do show o que não a impediu de participar com seu carisma e bom humor no palco. Também é muito massa que Latrice tenha dividido o palco com Epiphany Mattel que também é assistente da turnê.

VIOLET CHACHKI



Violet Chachki é a bitch da turnê, mas não de um jeito pejorativo. É que a mana é muito sincera, não consegue ser falsa e é um pouco mais séria do que as outras garotas. Mas, ela também zoa e dá muito risada com as meninas, o que desfaz um pouco essa imagem reducionista de megera que ela pode ter para algumas pessoas. Violet é super polida, fina mesmo e traz o burlesco para a Werq the world com coreografias suspensas e tudo o mais. Ela é muito amiga da Valentina e há muitos momentos legais das duas juntas, inclusive os atrasos das duas são legendários.

DETOX


Que dizer a respeito da maravilhosa Detox? É curioso que ela também tenha um jeitão meio
bitch e a gente pode pensar que ela seja porra louca por causa dos seus looks ousados. Mas, nos bastidores, vemos que Detox é uma dama, uma senhora que se deve respeitar. É de rachar o bico quando ela fica brava com o atraso das meninas mais novas, mas ela tem um coração enorme. É tocante quando ela fala sobre Latrice Royale que a conhece desde que ela tinha 17 anos e quando ela se despede da equipe ao final do episódio.



KENNEDY DAVENPORT


Kennedy Davenport é uma rainha da dança e, como vocês podem ver na fotinha aí em cima, ela tem um número homenageando o Brasil. Ela faz espacate, vira estrela, dá mortal com um domínio impressionante. É bem aquela coisa do Kitty Girl que a gente viu no All Stars 3. A mana também é engraçada demais, xavecando o diretor Jasper Rischen e fazendo piadas também no estilo senhora de respeito. Ela também compartilha um pouco da sua história de vida, mas não vou dar spoiler. Tá, só vou contar que ela é a queen da soneca, conseguindo dormir em condições extremamente adversas.

SHARON NEEDLES


Claro que eu tenho as minhas favoritas e eu tenho uma queda imensa por Sharon Needles. Desde quando assisti a temporada 4 de RuPaul’s Drag Race eu babo por ela. Além dessa coisa trevosa e gótica que ela carrega em seu drag, Sharon é muito querida, às vezes muito bem humorada, fazendo piadas o tempo todo e também muito contida quando ela conversa desmontada com o diretor do documentário. Sharon consegue ser debochada e tímida, apresentando realmente duas personas. Eu diria que é uma pessoa realmente intrigante e extremamente inteligente, o que fica evidente em seus comentários quando ela está desmontada, conversando com o diretor. Interessante é que Sharon vem para Werq the world oito anos depois de sua participação em Drag Race e é impressionante que ela tenha amadurecido tanto e, ao mesmo tempo, se mantido fiel à sua persona drag.

ALYSSA EDWARDS


Alyssa Edwards é incrível. A queen texana e professora de dança é carismática demais! Cheia das caretas, dos trejeitos, dos estalos de língua e das frases de efeito: eu não esqueço jamais a sua citação: “I don’t get cute! I am drop dead gorgeous!” que pode ser traduzido por algo como: “Eu não fico bonitinha! Sou linda de morrer!”. Alyssa se reuniu com as outras manas para alguns shows pela Europa e o que ela apresenta é uma profunda conexão com as queens. A cena em que ela clama por água quente para tomar banho enquanto Valentina joga a real de que não há luxo nem glamour naqueles batidores é hilária. Além disso, Edwards é praticamente mãe da Shangela, outra queen extremamente hilária. Extremamente grata aos fãs, Alyssa tem sempre uma palavra de consolo e apoio para as outras garotas. E também arrasa nas suas performances utilizando o palco de um jeito que só ela consegue.

A EQUIPE


Na foto acima as queens aparecem desmontadas acompanhadas pelos seus quatro dançarinos babadeiros Chancelor Dayne, Filip Lacina, David Ratcliffe e Vincent Michael. Mas, na verdade a equipe de Werq the world é composta por 21 pessoas sendo Brandon L. Voss o chefe da coisa toda. Mas, também há algumas figuras que são fundamentais para a coisa acontecer como os assistentes de produção Kenny e Jon bem como a já citada Epiphany Mattel. Mas, o destaque, na minha opinião, é Ray Pierce que faz o contrapeso da Violet Chachki no número em que ela fica suspensa em uma espécie de bambolê com uma corda. Ray é realmente um senhor, deve ter aí uns 60 anos e se rasga todo em elogios para o que essas manas fazem para entreter e divertir o público.

SHANGELA


Na foto acima Shangela (à direita) aparece junto de sua drag mother e bff Alyssa Edwards (à esquerda). Shangela também é dona de um imenso carisma, ela é o tempo todo uma comédia. Pode-se dizer que Shangela está o tempo todo no seu personagem. Ela é a mestre de cerimônias do show e também uma de suas produtoras. Mas, ao mesmo tempo em que precisa colocar ordem na coisa, é também um das que atrasa para os compromissos. E a mana está o tempo todo a mil. É aquela garota festeira que sai todo dia pra buatchy depois do show, bebe até cair e pega vários boyzinhos que ela chama de “amigos”. Claro que as outras queens não perdoam e zoam Shangela horrores. Mas, ela sempre ri junto. A mana serve Beyoncé realness no seu número e é, basicamente, boa em tudo em que faz (menos em chegar no horário).

UM GOSTINHO DA 2ª TEMPORADA

ASIA O'HARA


 A segunda temporada de Werq the World já começou e a cada semana vai ao ar um episódio com uma queen diferente no mesmo esquema da primeira temporada.
Essa temporada começa com a mestre de cerimônias da turnê em solo norte-americano, Asia O’Hara. Eu fiquei impressionada com o pouco que vi dos seus números que são vários: a mana dança, faz acrobacia, traz uma bateria para o palco e mandar ver e é hilária. Tem uma hora que ela usa uma roupa que eu não sei nem explicar, se é led, se é holográfica. Só sei que eu fiquei de queixo caído.
Mas, Asia traz uma discussão muito importante para a cena drag: a questão étnico-racial. Ela começa indo mais ou menos pelo mesmo caminho que RuPaul já mencionou tantas vezes: que ser negro E gay E drag queen é realmente algo difícil. É muito importante quando ela fala que o público de RuPaul é majoritariamente branco caucasiano e é muito triste quando ela diz que às vezes ela perde espaço e não recebe tanta atenção quanto as queens brancas no Meet and Greet que é o evento que ocorre antes do show em que os fãs conhecem pessoalmente as queens. Ela coloca a questão de maneira muito pontual e realista para cena na segunda temporada.
Justiça seja feita: ASIA O’HARA É FABULOSA!

Vocês podem esperar de Werq the world além disso tudo muita meia-calça. Meia-calça é o que mais tem! É na cabeça para abaixar o cabelo e colocar a peruca. As manas andando para cima e para baixo de meia-calça. Shangela usa uma meia calça para abafar os ruídos porque ela tem que gravar uma risada no celular. Meia arrastão, meia cor da pele, meia que cobre até o peitoral, meia com enchimento. E também muita rachação, amizade, looks e performances incríveis!

Fica entre nós aqui, mas você pode baixar os episódios da série documental no maravilhoso blog fuzzconews.blogspot.com. A legenda maravilhosa foi feita pela galera do @shantayficagay.

Aqui, os trailers para vocês:






Bruna Vasques é Cientista Social e Pedagoga. Gosta de Drag Music a Heavy Metal, de documentário a série absurda. Anda lendo o que tem na estante de casa e sua mais nova encanação são os estudos de gênero e feministas.

 

Comentários

  1. Que legal, eu ainda não vi nenhum dos episódios, mas tô acompanhando pelas previews no fim da S12 e AS5. Quero ver tudonnnn, principalmente o da Yvie Oddly

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