Papo Reto com o músico Péricles Zuanon








Por Douglas Ribeiro*


Membro ativo da cena alternativa de Araraquara-sp, Péricles Zuanon é baterista, e transitou entre muitos estilos musicais nas bandas pelas quais paticipou e participa, desde a raivosa Macabra, até a versatilidade d'Os Caramelows, banda da qual assume as baquetas atualmente.
Nesta entrevista, ele mostra um pouco suas ideias e contextualiza suas obras.


IMERSA S/A : Primeiro de tudo, obrigado pela conversa!
Péricles: Obrigado pela oportunidade.


IMERSA S/A : Você já tocou em bandas com sonoridades muito diversificadas, como Macabra, Johnny Sue, com Liniker e os Caramelows e também com Os Caramelows, em paralelo. o que mais te atraiu em tocar nessas bandas? Você teve sensações similares, em ritmos tão distintos?Péricles: Cara, o Macabra foi minha primeira banda, né,  e era uma banda muito pesada, muito pesada mesmo, então, eu tocava muito forte, era sempre porrada. No Macabra, eram raros os momentos em alguma música (raríssimos, na verdade) em que a gente tocava numa dinâmica baixa, pelo contrário, na verdade era tudo, a dinâmica super alta, super bem pesado, super saturado e pesado. E quando o Macabra acabou, na verdade, eu percebi que, de uma maneira, eu tinha uma limitação. Eu estava acostumado a tocar, há anos, só nessa dinâmica super alta e tocar só Metal pesado e tudo mais, apesar de que não eram minhas únicas influências, eu sempre ouvi várias coisas diferentes. E aí eu percebi que eu precisava
estudar mais, que eu precisava me tornar um baterista que conseguisse tocar outras dinâmicas, que conseguisse...porque tem aquela piada, que "baterista de Rock tem duas dinâmicas: 'Alto' e 'muito alto' ", né, e é um pouco verdade (risos), é um pouco preconceito, mas é um pouco verdade, também, né. E eu percebi as minhas limitações hora que eu saí
do Macabra porque eu queria continuar tocando, eu queria viver da Música, só que eu percebi que eu, por exemplo, não sabia tocar numa dinâmica muito baixa e que eu não sabia tocar muito outros estilos, que eu não conhecia muito...não conhecia nada, na verdade, de bateria brasileira, não conhecia nada de Jazz, então eu fui correr atrás, e a Johnny Sue, por exemplo, foi a primeira banda que eu tive que tocar numa dinâmica baixíssima, tipo, pianíssimo. A Ekena canta super suave, apesar dela ser forte, ela toca com violão acústico, então era uma outra abordagem assim, pensando no Macabra, era uma abordagem oposta ao Macabra, em relação à dinâmica, por exemplo. Então, na verdade, não tinha nada
em comum, e eu tive que me virar, então, por exemplo, a Johnny Sue foi um super aprendizado pra aprender a tocar em volumes muito baixos, assim. E, acho que é isso.



 IMERSA S/A : Como vc interage com as diferentes culturas pelos países que passa? Enfrenta muitas dificuldades em levar o som que faz para o exterior? Sejam elas burocráticas, climáticas, etc, e quais as facilidades de se tocar lá fora? 
Péricles: Então, tocar no exterior é uma super experiência, em diversos aspectos. Um é que as pessoas estão muito muito abertas a ouvir música, né, então, você vai tocar em festivais grandes, que nem os festivais que a gente tocou, e você vê, por exemplo, uma coisa muito interessante, que é a diversidade do público, e, mesmo, assim, por exemplo, você vê muita gente mais idosa, cara, no público desses festivais e pessoas abertas a conhecer música nova, e tal. Eu acho que isso é uma característica da Europa, né, talvez.
 Pensando, por exemplo, na história do Jazz, onde os músicos dos Estados Unidos já nos anos 40 estavam indo para a Europa pra tocar Jazz, uma, porque lá o preconceito racial era menor, pelo menos nos círculos que eles frequentavam, eu acho, e outra, porque o público é muito aberto pra ouvir música. E uma coisa muito interessante que eu acho lá também é que eles não têm muito esse lance de focar a atenção só no cantor, na cantora, né, no frontman ou frontwoman,né. É um público que tá muito prestando atenção no que a banda tá fazendo, eles vêm conversar com você depois do show, te falam assim, sabe, coisas muito doidas, assim, tipo uma frase que você fez no meio da música: "aquela frase que você fez na música tal é muito legal", então é muito interessante, assim, meio espantoso, até, você perceber isso no público europeu. 
É um público bem aberto pra música, e pra música nova, em geral. E não tem nenhuma dificuldade, cara, mesmo que eles não estão entendendo a letra eles dançam muito, curtem muito, compram o material, compram os discos da banda, camiseta, é muito legal.
 E outra coisa muito boa é que o equipamento é de primeira qualidade, eu tive uma super boa sorte de experimentar as melhores baterias que eu jamais tinha sonhado em tocar, né, toquei em bateras de todas as marcas, as bateras de última linha, sabe, instrumentos profissionais perfeitos, assim, com as peles todas maravilhosas (risos), os pratos maravilhosos, então, e, assim... os técnicos de som são muito competentes, também, você chega pra tocar numa casa de show, num festival, o cara que vai fazer o teu som, que vai ser monitor de palco, que vai ser técnico de P.A. ele ouviu o teu disco, tá ligado!?
Ele ouviu o teu disco antes, pra sacar o teu som, então muitas vezes você chega pra falar pro cara assim "olha, a minha banda faz um som meio anos 60/70, dá pra você deixar o bumbo assim, um som mais fofo de bumbo, sem tanto kick, porque é uma coisa mais setenteira...?", ele fala:"cara, fica tranquilo, eu ouvi o teu som, eu sei exatamente o que é", então é muito legal.
 

IMERSA S/A : Além d'Os Caramelows, você participa de outras bandas ou projetos musicais paralelamente, ou mesmo algo sozinho?
Péricles: Agora que a Liniker e Os Caramelows tá se separando (a Liniker e Os Caramelows prum lado e Os Caramelows pro outro), a gente tá aqui dando um gás em todo o material dos Caramelows, produzindo muita coisa, pensando show, fazendo foto, papapá, mas eu tô afim sim de tocar com outros projetos, em algumas coisas, inclusive de música pesada com os amigos que eu tinha começado e, depois, hora que eu entrei na Liniker e Os Caramelows
não tive mais tempo de continuar. Eu tô retomando essas coisas aí, e sem dúvida, assim que passar a pandemia, eu vou tá (risos) me encontrando com os doidos aí pra dar prosseguimento a um projeto pesado aí logo mais.


 IMERSA S/A : Além da música, você gosta de se dedicar a alguma outra área em específico?
Péricles:  Então, sobre me dedicar a outra área, eu tô estudando Psicanálise, ultimamente. Há uns 2 anos atrás eu comecei a ler Freud, me interessei muito, e tô no sexto livro já, do Freud, tô com algumas coisas do Lacan também, que é um psicanalista francês do século XX, também famoso, que deu uma cimentada, também desenvolveu o que o Freud escreveu e ampliou, transformou. Então tô estudando muito Psicanálise, me interessa muito e tô voltando a estudar algumas coisas de Ciências Sociais, porque eu sou sociólogo formado pela Federal de São Carlos (UFSCar), tô estudando também um livro da Hannah Arendt, que é um livro sobre Totalitarismo, "As Origens do Totalitarismo", que fala sobre antisemitismo, totalitarismo e imperialismo e que, aliás, é bem assustador, por fazer a gente perceber que a época da Segunda Guerra, em termos de conjuntura sócio-histórica, é muito parecido com o que a gente tá vivendo hoje em dia no Brasil e no mundo. Então, é bem assustador, na verdade. 

IMERSA S/A : Como vem sendo esta quarentena para a sua música?
 
Péricles: Cara, a quarentena é complicado, né. Eu brinco que eu tô numa proporção de 2 pra 1: É dois dias bem, e um dia emocionalmente cagado (risos), acho que todo mundo, né, mexe muito com a gente, e ainda por cima no Brasil, que é um combo: é o Covid-19 mais o excrementíssimo presidente da república, mexendo com a nossa cabeça, então tá difícil. Tem dias que eu acordo com bastante energia, vou, gravo várias coisas de bateria pros Caramelows, que a gente tá fazendo uma porrada de música, lançando aí como vocês estão vendo. Então, quando eu tô com uma energia alta eu vou, trabalho bastante, toco,
estudo um pouco de batera, leio as coisas de Psicanálise, faço um monte de coisa, limpo a casa, lavo a roupa... e tem dia que eu tô bem cagado, pra confessar, fico zuado...

 Tenho me apoiado bastante no Budismo, que eu sou budista convertido há 10 anos (?)...mentira, há 11 anos, e é o que me ajuda a levantar, junto com a minha esposa (Leila Penteado, fotógrafa e desenhista), que me incentiva bastante. 

IMERSA S/A : Recomenda um som que você tem escutado bastante pra galera aí!
 
Péricles: Cara, eu tenho ouvido muita coisa extrema, assim, né, coisas que eu ouvia quando era mais moleque e coisas que não, que eu fui ouvir de verdade agora, depois de véio. 
Então, tanto coisa de primórdios do Black Metal quanto coisa de Hardcore Crust, Grind, então tô ouvindo bastante Bathory, Celtic Frost, Venom, Possessed, Hellhammer... de Grindcore, o que que eu tô ouvindo, deixa eu pensar... eu tô ouvindo uma banda japonesa que chama Wormrot, que é animal, muito rápida, muito pesada, tô ouvindo uma banda que chama Rotten Sound também, que é muito legal, muito interessante, tô ouvindo Agoraphobic Nosebleed,
e... acho que é isso.








*Douglas Ribeiro é arquivista, amante de música e de gatos"

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